sábado, 18 de abril de 2015

O Jazz no ano de 1956: Epílogo de uma Era?

Existem alguns anos muito marcantes na história da música. O ano de 1958 marca o surgimento da Bossa Nova, o de 1956 o surgimento do Rock n’ Roll e por aí vai, o Woodstock em 1969 é a síntese do melhor do rock sessentista. Os movimentos culturais de vanguarda por sua vez têm picos que muitas vezes duram alguns anos ou décadas, mas mesmo nesses caso alguns anos são mais marcantes que os demais. O ano de 1956 pode ser interpretado como o epílogo da era de ouro do jazz.
Canto do cisne jazzístico de Nat King Cole

O lançamento de Elvis Presley e todo impacto derivado nos anos seguintes é um dos pontos que justifique a escolha do ano de 1956 como um ano especial na história do Jazz. Isso fez com que 1956 fosse o último ano em que o Jazz foi o estilo de música mais popular na indústria de massa dos EUA. A popularização da televisão como principal canal de divulgação da indústria cultural faria o rebolado de Elvis impactar as massas de todo país numa proporção e velocidade ainda não vista. Depois de 1956 o rock assumiria as paradas e apesar de manter ainda grande prestígio e valor cultural o Jazz nuca mais seria o protagonista da cultura popular de massa nos EUA.

Nesse contexto, o Jazz ainda como principal estilo popular e comercial teria um de seus ícones associado a esse momento com a estreia do Nat King Cole Show na NBC nesse mesmo ano. Nat King Cole a mais de uma década com grandes sucessos e situava-se no topo do show business americano. A série começaria sem patrocinadores e a NBC investiria esperando que ao identificar a sofisticação e sucesso patrocinadores nacionais surgiriam a partir do sucesso do programa. Esses por sua vez não apareceram, com medo de contrariar os consumidores do Sul ao financiar um programa de um negro (levando em consideração o contexto racista do país na época), belo e extremamente talentoso. Contraditoriamente uma das marcas fonográficas do ano justamente seu álbum After Midnight, canto do cisne jazzístico antes de embarcar nas canções românticas e traz gravações belíssimas como Route 66 e Caravan.
Temos ao mesmo tempo o ano de estreia de um dos grandes talentos do Jazz Vocal, Mark Murphy que se manteria fiel ao estilo mesmo ao longo do período em que o Rock ocuparia as corações e mentes da maioria dos jovens nos anos 1960 e 1970.

Outra inovação tecnológica importante foi a adoção do formato de discos de vinil de 33 ½ rotações e 12 polegadas como o formato padrão da indústria. Isso afetaria fortemente as possibilidades de gravação jazz pois libertaria os músicos das gravações de 3 minutos, o que convenhamos é uma revolução total no que tange as gravações do estilo o que de fato marcariam as gravações do ano.

Um dos motivos que definitivamente marcariam o ano de 1956 na história do Jazz e que por si só talvez já bastasse para escolher esse ano como um destaque na história do estilo deve-se ao conjunto de quatro álbuns qravados pelo quinteto de Miles Davis, com, além do trompetista líder Red Garland no piano, John Coltrane no Sax Tenor e Philly Joe Jones na beteria: Cookin', Relaxin', Workin' e Steamin'. Um dos grupos mais cultuados da história do Jazz gravariam quatro álbuns clássicos obrigatórios nesse ano que ficariam famosos pelo alto nível das improvisações e a recriação de standards clássicos ao seu bel prazer.


Entre os vários álbuns marcantes desse ano um dos momentos marcantes da história do Jazz que ganharia capa da popular Time Magazine. Se hoje reconhecemos Duke Ellington como um dos maiores jazzistas de todos os tempos sua reputação estava abalada pois encontrava-se deslocado pelo ostracismo das Big Band. Vale destacar o concerto de Duke Ellington no Newport Jazz Festival considerado um marco de retomada de seu prestígio no cenário jazzístico. Interessante destacar que as gravações originais do concerto onde retomaria sua notoriedade ficaria ruim e a gravadora precisou que ele regravasse o show para garantir qualidade ao produto final, com falsos aplausos, é claro. Outro marco na história do Jazz as sessões de gravações do Birth of the Cool de Miles Davis ocorreriam nesse ano.



 Fontes:

Playlist Spotify de grandes gravações do Jazz em 1956:

Apresentação

O objetivo do blog é criar um canal de divulgação pública dos textos de música que venho escrevendo como hobby associado à minha paixão por música e colecionismo de discos.